31 janeiro, 2011

Egoísmo

Estranho a necessidade do ser humano de se libertar de alguém que julgava ser importante para si, de uma forma egoísta... é como se só pensasse em si a todo o momento, até no sofrimento, não tem como olhar e ver que ali do outro lado da rua existe uma alma que talvez esteja tão perdida quanto você, e que ao meio a esse desespero pode procurar abrigo no peito do seu traidor, desespero?... talvez, vejo como sentimento, por que sentimentos são loucos, mas não devem nunca, serem egoístas.
Tenho comigo algo que mais me prejudica que me favorece, sei e entendo que as pessoas pensam e agem de formas diferentes, porém dou inúmeras pistas para que me surpreendam e me conquistem de vez, para o infinito, o triste é que isso nunca dá certo, será que sou eu que arrisco demais, ou realmente não consigo fazer com que prestem atenção as minhas súplicas...
O tempo pode ser fatal quando não se sabe usa-lo... e foi isso que me aconteceu, infelizmente saboreei o pior de todos os gostos, tão cedo, tão egoísta, me senti um lixo, queria me tornar um monstro, mas para que e por que... se foi eu quem escolhi esse caminho para que obtivesse as respostas que me faltavam, me perguntas hoje se as obtive? Não sei... dói, mas não sei, sei que quero o labirinto, escuro e a beira de um abismo, quero perder-me literalmente, e   lá no fim tentar escalar mesmo que cada tentativa seja uma navalhada, a morte e a vida andam tão juntas que as vezes é imperceptível aos nossos olhos, durante a vida de certa forma morremos e ressuscitamos várias vezes... Cada uma delas achamos que estamos mais fortes, e basta acontecer de novo para perceber que é assim que as coisas funcionam, chora por que senti, e isso é o mais importante, claro que temos mais conhecimento, mas sofreremos da mesma forma, decepção mata aos poucos, mas a fênix existe dentro de você... Queria que fosse diferente, mas a burrice humana as vezes é maior que os sentimentos mais doces, jogam-se fora pessoas como se fossem objetos descartáveis...
Eu realmente me sinto tão diferente, não consigo por mais que tente me adequar a certas situações, principalmente as que me entreguei... e me enojaram com reações inaceitáveis... Mãe eu sou um Aliem... me abduza por favor...
Quero algo puro e verdadeiro, preciso ir para outro planeta... urgente...
Conquistar alguém, não é presentear, pagar a conta do restaurante, e dar uma mesada alta... isso é comprar...
Nasci para ser feita de trouxa, e acho que até por mim mesma... que Fracasso...

Trechos de um poema que me identifico...


Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei...
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri. 
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos, 
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. 
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti. 
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito, 
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo. 
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo, 
Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,
A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida..
Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Unia razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.
Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila...
Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,
Tu que não existes, que és só a ausência da luz,
Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão,
Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,
Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,
E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte...
'Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva...
Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem...
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia, 
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus. 
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens.
Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser. 
Estreito ao meu peito arfante, num abraço comovido, 
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria,
E o matricida, o fratricida, o incestuoso, o violador de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras, a sombra que espera nas vielas —
Todos são a minha amante predileta pelo menos um momento na vida.
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
Fui para a cama com todos os sentimentos,
Fui souteneur de todas ás emoções,
Pagaram-me bebidas todos os acasos das sensações,
Troquei olhares com todos os motivos de agir,
Estive mão em mão com todos os impulsos para partir,
Febre imensa das horas!
Angústia da forja das emoções!
Raiva, espuma, a imensidão que não cabe no meu lenço,
A cadela a uivar de noite,
O tanque da quinta a passear à roda da minha insônia,
O bosque como foi à tarde, quando lá passeamos, a rosa,
A madeixa indiferente, o musgo, os pinheiros,
Toda a raiva de não conter isto tudo, de não deter isto tudo, 
Ó fome abstrata das coisas, cio impotente dos momentos,
Orgia intelectual de sentir a vida!
Sinto na minha cabeça a velocidade de giro da terra,
E todos os países e todas as pessoas giram dentro de mim,
Centrífuga ânsia, raiva de ir por os ares até aos astros
Bate pancadas de encontro ao interior do meu crânio,
Põe-me alfinetes vendados por toda a consciência do meu corpo,
Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para Abstrato,
Para inencontrável, Ali sem restrições nenhumas,
A Meta invisível — todos os pontos onde eu não estou — e ao mesmo tempo ...
Ah, não estar parado nem a andar,
Não estar deitado nem de pé,
Nem acordado nem a dormir,
Nem aqui nem noutro ponto qualquer,
Resolver a equação desta inquietação prolixa,
Saber onde estar para poder estar em toda a parte,
Saber onde deitar-me para estar passeando por todas as ruas ...
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos, 22-5-1916)

Val Vince...

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